domingo, 13 de junho de 2010

O poeta e a uva

Pensando bem, é bom que não me queiras!
É bom que eu não te veja sorrindo pela manhã quando acordas a meu lado,
que eu não lhe dê uma prova do café que faço,
que eu não prove seu tempero no almoço,
nem veja as cores do pôr-do-sol fazê-la especialmente bela
ou sinta seu perfume nas noites em que, vaidosa, se apronta.

Caso assim fosse, aqui, sentado a teu lado no banco da praça,
não me esforçaria para escrever um sentimento.
Não faria nada além de olhar-te, enfeitiçado,
não pensaria em outra coisa que não amar-te,
não existiria senão para fazê-la sorrir.
(serias presença, não lembrança)

Pensando bem, nem mesmo seria eu...
Não olharia para as mulheres que caminham,
não arrastaria asa para um bom rabo de saia,
não gastaria tempo com futebol e cartas...
... talvez até trabalhasse.
(estarias! mas não como saudade)

Muito obrigado por não me quereres,
por desprezar meus intentos;
por negar-me seus sentimentos.
Desta forma continuo como sempre fui...
Vazio.

E posso fingir que estou feliz
fazendo sozinho o que prefiro em conjunto:
Ouvir os pássaros; comentar a beleza das flores...
E posso até arriscar versos,
para mentir que não te amo.

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