quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Profissão desacato

Eis nós que cá estamos!
Vestimos suas roupas para enganá-los.
Falamos sua língua para desvendá-los.
(...) esperamos derrubá-los.

De nem tão longe nem tão perto viemos,
estamos
em todo lugar.
Abaixo do véu de suas mentiras,
sua fumaça,
não nos entope a vista.

Se enganaram com o que esperavam!
Não nos dobraremos a seus reis de plástico
não sentiremos seu amor de venda
não seremos mero decorativo
ao saber de seus sábios falsos.

Já estamos fartos de novelas,
seus papos tortos não serão nosso ópio;
temos certeza em ser seu monstro.

Nosso orgulho é ser sua escória
a fim de mostrar-lhe, tal qual espelho,
a tua verdadeira face.

Propomos o que temos
e ser é ter a si mesmo.
É uma guerra;
vá para a linha de frente sabendo o que quer dela.

Garoto, carregue a mochila com molotov!
Não aceite seu preconceito,
faça-se grande em conhecimento.
Não semeie o grão que lhe venderam -
não diminua como arma -
e não se cale frente ao desrespeito.
Não viva a vida que te deram,
dê a eles o que quiz dela!
Construa seu castelo.

Aqui jaz aquele que pensava
que devia viver em termo alheio.
Aqui jaz quem não sabia
o valor do seu tempo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Morar na estrela!

Iraê, vamos morar na estrela?
É que hoje me peguei cansado
de toda essa gente se achando enorme
com tanta pompa, dinheiro e coleção
daqueles itens de segurança.

É que essa caixa de cores
não pára de impor-me
regras de roupas, segredos famosos
ordem de voto, manual de alheio.
E hoje me peguei cansado!

Já não quero mais os apetrechos
que me enfiam guela abaixo.
São flores de plástico,
sonhos de pré-moldados:
felicidade já vem embalada.
E nada me importa;
sou eu que exijo medida drástica.

É que hoje me peguei cansado
e essa caixa de cores não quero mais.
Nada mais me importa, então,
exijo felicidade drástica.
Quero regar meus sonhos
e plantas com sentimentos.

Então pensei que a gente podia
passar o dia
inteiros na praia.
E se não for o sol, quem sabe a lua
que nos aqueça a ponto de ebulição
e a gente possa, então,
quem sabe Iraê,
ir morar na estrela?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Todas as noites, no auge da descrença,
peço a Deus que me retire do mundo.
Que evite a chegada do momento
Em que o insuportável se torne o mote
Da vida que ainda agora me interessa.
Peço que, com sua clemência,
me retire de vez o ar.
Me retire a visão, olfato, tato e paladar.
Pra que não possa ver o escravo a trabalhar,
Por que não quero cheirar o sangue no altar,
Pra que não possa eu, também, me mutilar
E pra que não saboreie o suor
daqueles que não poderão provar
do alimento que foram obrigados a cultivar.
Mas, principalmente, peço que me retire a audição.
não quero mais ser acossado pelas frases,
pela falta de sentido que apregoa todo homem do mundo
quando quer mostrar verdade naquilo que não passa de discurso.

Por favor, Deus, mate-me já ou faça jus ao que criastes neste mundo!

De médico, um pouco

Só venho aqui hoje dizer-me
a fim de resolver mal entendidos.
É que sinto que julgam-me
pela pouca, paca aparência.

Julgam que vivo em paz;
não sabem das voltas que já rodei.
Para tudo o que vi e descordei
carrego uma bolsa de pedras
previamente polidas e miradas.
Reservo-me o dever de esperar calado
para na calada acertar o ponto nevrálgico.
Sem risco de ser descoberto,
já que em permanente guerra.

Ainda, contudo
xingam-me desordeiro.
Mas se olharem a situação de dono e empregado,
faço muito bem o propôr do desacato.
Ou é dever de alguém aceitar se explorado?

Dizem-me aéreo, lento;
não compreendem: onde estou não há tempo
a desperdiçar em jogos pequenos.
Não me ligo em representar máscaras
de poder e status - ilusões e engano premeditado.
cobra-me forte no peito ser, eu mesmo, sincero.

Quando se sabem que nada de mim sabem,
classificam-me, sem dó, louco.
Mas quanto a isso defendo-me pouco;
de viver em contradições e não entendê-las,
digo-me normal até sóbrio.
Porém, quando frente a isto
resolve-se a escrever poesia; só doido!
Posto que só poetas
têm coragem para ser loucos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O meu projeto de vida

Eu queria dizer-lhe isto apenas.
Escrevo por não possuir megafone ou rádio e antena.
E digo por não conseguir apenas
guardar o que sinto dentro do peito.
Indigno-me.

É preciso dizer à ela
àquela rosa que brotou ali
no meio da cidade.
Quebrou o asfalto, negou o escarro
e quase morreu comprimida por fumaça.

Não é ela quem precisa saber
que a beleza é forte e se faz presente.
Não é ela quem precisa ouvir
que o amor vive;
e tolos os que dizem que não.

Mas escrevo para dizer-lhe
que alguém a viu e lhe agradece
simplesmente por que ela existe.
Que a vejo como exemplo e a amo de graça
por ser singela com tudo isto à volta.

E aproveito para dizer
que este cinzento é feio, chato, mandão e sem graça!
Que você é linda e sempre terá espaço
por que é rosa, rosa
e não se importa com ele.