quinta-feira, 10 de novembro de 2011

um homem


"É mais um dia
do dia-a-dia
que se repete todo dia.
É muito chato e se repete a cada dia."

E nessas manhãs
só há pressa pra apertar gravata e sair pro trabalho.
Há um amor em situação delicada,
um amor que não se sente à vontade.
Que é uma espera que se perpetua,
uma vontade que seca e definha
à espera de um tempo
que só se apressa e nunca chega.
Promete que chega um dia
mas este dia ninguém chega a ver.

Sai para a rua o apressado homem que deve
cumprir todas as tarefas em tempo recorde.
Levar os filhos à escola, enquanto reclamam;
conversar com a mulher, em duvida sobre se amam.
Pagar contas de água, luz, televisão;
prestação de carro, apartamento, financiamento.
Enquanto faz tudo e mais um pouco; se lembra do afeto.

É um homem
que não liga para a mãe,
que não vê os amigos,
que não ri com o pai,
que não sabe dos filhos,
que não transa mais;
e sente saudade.
Mas passa por cima
pois há um chefe que cobra metas e alerta,
xinga se, por um segundo,
sonha.

E é o homem que se aperta.
Comprime sua raiva que não pode ser expressa;
sufoca a insônia e come angústia.
É o homem que agora foge de uma relação profunda,
que já nem pensa mais,
ou ama mais,
que não vê o mar e não mergulha.
Faz tudo que faz sem saber
e já nem sabe que devia se preocupar
e já não vê que precisa de alento.
Que já não está mais atento,
fora roubado em seu trabalho e seu tempo.
Para tudo que faz falta o ar, o estar pleno.
Ofega,
aperta o peito e adormecem as pontas dos dedos.


Não mais a partir deste dia que começou igual.
Em um segundo de espera para atravessar o sinal,
olhou ao redor. Percebeu e questionou o Homem.
Em sua cidade, viu as ruas compostas de pressa
e quis saber do mundo mais que da caixa preta.
Pensou que era piada uma organização financeira
que girando em ciclos, está presa
e emperra os homens da Terra
com sonhos de acumulação neurótica
e prisão verdadeira de mentes e corpos.

Não é lícito mentir que não sentiu medo;
era a tormenta que se apresentava
em giros no meio do caminho.
Lembrou-se da vida inteira como morresse
e sentiu raiva consciente do dia-a-dia que o matava.
Inflamaram-lhe as vísceras e os olhos
com o fogo juvenil da ânsia pelo desastre
e quis matar, o homem.

Um a um, todos os sentimento guardados
subiram à superfície da pele e emitiram luz.
Era um soluço e um brilho para cada mágoa ressentida;
uma tosse para cada sapo engolido;
um espirro para alegrias que passaram e não viu.
Azul, amarelo, verde, vermelho e roxo, era o homem e não sabia.

Um surto psicótico à luz do dia,
sucedido de AVC e enfarto enquanto gargalhava.
Nosso personagem sentiu romperem os vasos sanguíneos.
Sentiu o sangue jorrar dentro de seu corpo até sua morte.
Para ele foram flores e cores das quais gostava e (há muito) não via.
O relatório médico é frio por que não soube o que ele sentia.

Nosso personagem foi, um dia, um homem de sensibilidade,
sentiu, na hora da morte, o prazer da naturalidade.
Sentiu que tudo em seu corpo se transformava.
Seus órgãos viraram lagos e mares,
seu sangue, flores;
sentimentos, música.
Sentiu o que não podia ver ou viver para ver, e amava.

Sentiu sua existência jorrar em arco-íris,
banhar a existência cinzenta das cidades
e canalizar-se em um riso enorme
a despertar os homens e alegrar as crianças.
Como devem ser os homens e as crianças.
Toda a confusão de alguns instantes e o homem amou o mundo
e quis que se amassem neste mundo; 
transcendeu o Homem, o homem no mundo.


Em paz e em riso morreu um homem de terno
                                     à luz de um meio-dia.

sábado, 22 de outubro de 2011

Alça-vela


Sobre proa de barco,
onde ave-avoua,
segue ritmo de mar.
Em balanço mestrado de mar,
o natural homem em contato com o mundo;
sente o mundo
sente o mar
sem ter o mar.

O ridículo é o homem
buromecânico, sem pulso.
Sem íntimo, sem profundo; ...
sem saber que está em mundo.
Logo sem (m)ar!

Sequer, quer; e
Se quer, nem sabe o quê/por quê?
Quer?!
(...)
soluça
e compra.

Ridículo é o homem
Que vê na TV
A vida passar como cheque avulso
Sem valor e em branco;
Inútil!
é o papel de omisso.

Todos corroboram uma sociedade que ninguém quer,
da qual ninguém gosta;
não mais alguns toleram.
É dever não acomodar-se,
Não acostumar-se à poltrona,
Não curtir domingo!

É preciso ver que há.
Mais do que dinheiro,
sonho é mais que acumular.
Natureza é para dialogar.
É preciso reconhecer que há
de sentir o mar com calma
e, sem ânsia,
é preciso subverter o sonho para o além do mercado.

É para agora, alçar vela.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Fuga

Só fugi duas vezes na minha vida
Uma quando nasci
E outra quando vivi
E tive que viver
Mesmo assim
Baloiçando
De um extremo ao outro
Com medo da queda
E da subida
Não entrando
Pra não ver saída
Desconhecendo
A despedida
Das relações
Não cometidas.
Cheguei longe
Pra não estar perto
Mas, de surpresa
Fui descoberto
Mais uma farsa
De peito aberto.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Criação

Quando me perguntam:
Crês na criação?
Respondo logo que sim.
E como poderia crer que não?

Com tantas indústrias,
fumaça que entope os pulmões,
jagunços corporativos
chicotes modernizados.
Maçãs pecaminosas,
cruzes virtuais.

O homem cria a fundo!
é espetacular o que fez
do mundo, sua imagem
e dessemelhança.
Trabalho mais criativo?
Impossível!

Pois é fácil, ver Deus,
todo dia às sete
tomando aquele café
corrido, torcendo,
pelo atraso do bonde
e pela chegada da regra.

Porque filho é só
parecença, e ninguém quer
igualdade.

Quer mesmo ser
criador da criatividade.
Toda a obra,
é apenas,
metade.

Mas o capital,
é quem sabe se pôr
e cria duas vezes
dez mil Deuses,
e não tem tempo
pro sol se opôr,
a não ser que seja:
no fundo da tela
de um computador.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Anexo sobre a atuação do judiciário mineiro, TJMG, como braço político do governo em luta contra os profissionais da educação.

O texto do preâmbulo da CF traz o seguinte texto:

"Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."

Apesar de não ser uma norma, propriamente dita, o preâmbulo, que estabelece as idéias políticas, jurídicas, econômicas e culturais, tem a importantíssima e necessária função de orientar a interpretação e integração do texto constitucional.

O rol exemplificativo dos direitos sociais (citado ali na preâmbulo) previsto no art. 6º, inclui a educação como um desses direitos sociais, e apesar de não haver uma ordem hierárquica estabelecida ali, o direito à educação é o que aparece em primeiro lugar:

"Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição"

Já o art. 205 determina que a educação é dever do estado, e em continuidade, o art. 206, V, é TAXATIVO EM AFIRMAR QUE

"art. 206 O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
[...]
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal."

Ou seja, a obrigação não é de mera prestação do serviço de educação, a obrigação é de uma prestação de educação de qualidade, pautada na valorização do profissional da educação.

A decisão do TJMG, deveria ser baseada nesses princípios previstos no preâmbulo, nos princípios previstos em todo o texto constitucional, e principalmente NAS REGRAS EXPRESSAS DA CF/88. O preâmbulo não tem força normativa/obrigatória, mas os princípios constitucionais têm.
Assim, percebe-se que, a Constituição Federal foi rasgada pelo TJMG ao legitimar os atos ilegais do governo estadual e demonizando os apelos mais do que justos dos profissionais da educação.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Carta dos Estudantes Organizados da FAFICH – UFMG em apoio à greve dos professores da rede estadual de ensino


Nós, os Estudantes Organizados da FAFICH – UFMG, declaramos apoio irrestrito à greve dos professores da rede estadual de Minas Gerais e manifestamos nossa indignação frente à postura do governo estadual e o tratamento de choque à greve.


*        Consideramos uma vergonha que o estado de Minas Gerais se baseie em mentiras criminosas e repressão ditatorial política e militarmente (vide a atuação do poder judiciário representado pelo TJMG* - elucidado em anexo - e através do desembargador Roney Oliveira e da polícia militar; braços, armados e perigosos do governo).

*        Tratamos como criminosa a ação corrupta e podre dos grandes veículos de informação. Com política de censura e demissão de opositores a fim de criar uma ciência da desinformação e controle de massa. Uma atitude claramente parcial em apoio a um grupo/cartel/quadrilha, que governa as Minas Gerais energicamente.

Um grupo de Aécios e Nostalgias!

O governador Anastasia se recusa a cumprir a lei nacional do piso e declara a greve ilegal.
Nós; o consideramos Governador Fora-da-Lei, e exigimos o cumprimento imediato da Lei Nacional do Piso.
O grupo de jornais como o “Estado Minas” e a “Globo Minas” mentem e omitem, descaradamentem.
Informam que o governo paga o Piso Nacional, decretam o fim da greve, veiculam um calendário de reposição falso que não foi aprovado pela categoria, e inúmeras outras falcatruas.
Isto porque compactuam e têem papel fundamental para a instauração de uma ditadura da mentira em prol de interesses particulares de um grupo de administradores e políticos.
Inescrupulosos!

Frente à postura do governador de negar-se ao diálogo e da responsabilidade sobre a greve e sua longa duração, indignamo-nos e conclamamos a todos os professores, atuais ou futuros, todos os estudantes – incluindo os secundaristas - cada cidadão que vê na educação a oportunidade de inclusão e crescimento humano, social e econômico; que saiam às ruas e expressem seu apoio aos professores, nesta luta justa contra o governador privado das elites, para elas e ninguém mais.

Ressaltamos ainda que a postura omissa da reitoria da UFMG, da diretoria da FAFICH e de muitos estudantes e professores desta universidade e deste departamento, é inaceitável.
Se pensarmos na função primeira das instituições de ensino: formar cidadãos plenos de capacidade crítica e aptos a reivindicar seus direitos frente a governos despóticos, esta instituição de ensino está falida e já teve dias melhores; hoje vive de nostalgia!
Não aceitamos o silêncio condescendente dos que se encontram acomodados e forçosamente cegos a uma situação tão real, moderna e cotidiana a pelo menos 100 dias, para não dizer 8 anos.

No intuito de resgatar a função crítica e ativa da FAFICH enquanto núcleo de pensadores e ativistas sociais, conclamamos os não acomodados a reunirem-se nos corredores e debaterem a greve dos professores como ponto inicial de uma discussão maior sobre os rumos da educação no Brasil e o contraste com o sistema educacional que queremos e julgamos melhor para a população mineira e brasileira.


Contra as barricadas do individualismo;
contra a ultra-especialização, que aliena;
pelo claro posicionamento dos departamentos, professores e estudantes da UFMG;
um grito de quem enxerga e não vai ficar calado;
um grito de quem não suportar o silêncio resignado;
um grito de quem constrói pensamento com a realidade e para ela – para além da sala de aula.
Um grito de guerra ideológica.

ANONYMOUS

http://www.youtube.com/watch?v=05iAsf0VpK0&feature=related


http://www.youtube.com/watch?v=YWDRSDAVJJ8&feature=related


http://www.youtube.com/watch?v=sa-TqZnKVSA&feature=related

e durante a "vergonha" de inauguração do relógio dos 1000 para a copa...

http://www.youtube.com/watch?v=9V_gxEkWoXs&feature=related


http://www.youtube.com/watch?v=HJdGIobJ19s&feature=related


http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=Tqb5YLeNsi4



Greve justa, Governo ditatorial

http://www.youtube.com/watch?v=lgXTy4S5390&feature=related


http://www.youtube.com/watch?v=FRtAYfV6z3o


http://www.youtube.com/watch?v=ESyDVV4C8wk&feature=related


http://www.youtube.com/watch?v=oSgEa_MEGeU&feature=related


http://www.youtube.com/watch?v=jiLszTXKpDk&feature=related





segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Manifesto dos professores da FAE- UFMG em apoio à greve dos professores da rede estadual.


MANIFESTO

Como professores e professoras da Faculdade de Educação da UFMG, manifestamos
nossa solidariedade com o movimento dos professores/professoras da Educação Básica
do Estado de Minas Gerais.
Nas últimas décadas, a Faculdade de Educação e a UFMG como um todo têm contribuído
junto com outros centros de formação para o aumento da qualificação docente,
pedagógica, da educação básica. Entretanto, a qualidade dos postos de trabalho não
melhorou no mesmo ritmo comprometendo a qualificação dos professores e a qualidade
da educação. Estaríamos negando a função formadora da universidade se não
apoiássemos as lutas legítimas dos professores por condições dignas e justas de exercer a
formação recebida.
Entendemos que não falta qualificação profissional aos docentes,  falta qualidade de
condições de trabalho. Somos testemunhas, como professores da universidade, que não
faltam por parte dos professores das escolas  públicas esforços pessoais e coletivos por
garantir seu direito à formação e por se qualificar em cursos de graduação,
especialização, de pós-graduação e de formação continuada. Porém, a elevação de sua
qualificação não tem correspondido à qualificação dos postos e das condições de trabalho
e a correspondente elevação dos salários. Ainda, os professores da educação básica são
aqueles pior remunerados entre os profissionais da administração pública, mesmo que
possuam idênticos níveis de qualificação.
Defendemos como legítimas suas lutas por melhores condições de trabalho e por um piso
salarial básico justo, conquistado como direito nacional e exigido por lei como obrigação
do Estado e dos governos de cada ente federado.
Como professores da Faculdade de Educação da UFMG, reconhecemos a história de mais
de 30 anos de luta do movimento docente por reconhecimento dos trabalhadores em
educação como sujeito de direitos. A consciência de sermos trabalhadores em educação
básica ou superior tem significado um  avanço histórico para a docência e, 2
particularmente, para a educação, que  passamos a defender como um dos campos
privilegiados de direitos, e não um território de favores e barganhas políticas.
Reconhecemos que este é um dos sentidos  políticos das lutas históricas do movimento
docente: avançar no reconhecimento da educação como campo de direitos e,
consequentemente, exigir do Estado e dos governantes seu dever de implementar
políticas públicas que garantam a educação como direito público. Reconhecemos o
movimento docente como o sujeito político que mais tem contribuído pela afirmação de
nosso sistema educacional público como garantia do direito à educação dos trabalhadores
e dos setores populares. Esse movimento vem tornando o sistema escolar mais público.
Espaço de direitos. Reconhecemos as lutas dos professores como parte das lutas
históricas das famílias e dos movimentos sociais.
Contrapor o direito dos professores a trabalho digno e a um justo salário básico ao direito
das famílias e dos seus filhos a uma educação de qualidade é  uma irresponsabilidade
política a ser denunciada. Em mais de 30  anos de luta, o movimento docente vem
defendendo a educação como direito de todo cidadão e dever do Estado. São mais de três
décadas de solidariedade política entre os  professores, seu movimento docente e a
diversidade de movimentos sociais que  lutam por reconhecimento. Solidariedade
constituída na luta para que o Estado cumpra seu dever público como Estado de direito.
A consciência do povo a seu direito à educação pública básica ou superior tem avançado
de maneira mais rápida do que a consciência e a prática do Estado e dos governantes a
cumprir seu dever público de construção de um sistema de educação. Estamos em tempos
de avanço da consciência do direito à educação, terra, moradia, trabalho, justiça,
igualdade. Conseqüentemente, estamos em tempos de solidariedade por pressionar o
Estado, seus governantes para cumprir com  urgência o seu dever de garantir essa
pluralidade de direitos às famílias populares e aos trabalhadores.
As famílias populares sabem de seus esforços por garantir o direito de seus filhos à
escola, à educação, ao conhecimento e à cultura. Lutam pela escola, mas sabem por
experiência que a escola que tem direito exige o trabalho de profissionais em condições 3
de cuidar, proteger, formar  e tratar com dignidade seus  filhos. As famílias populares
construíram uma imagem positiva dos educadores e educadoras dos seus filhos. Os
valorizam e com eles são solidários nas lutas por direitos  pois sabem que professores
quando negados em seus direitos não terão condições de garantir os direitos de seus
filhos.
Ao longo das últimas décadas, foram sendo construídas novas solidariedades políticas
entre o movimento docente, as comunidades de famílias populares e seus movimentos
sociais em lutas comuns por  direitos à escola, ao trabalho, à moradia, à terra, ao
transporte.
Condenar os professores e seu movimento  é uma forma de adiar seu reconhecimento
como trabalhadores sujeitos de direitos, é negar a constituição de um Estado de direito e
inviabilizar a conformação de nosso sistema educacional como espaço público.
Tentar contrapor o direito das  famílias e seus filhos às legítimas lutas dos professores
pela garantia de seus direitos é uma perversa e retrógrada estratégia que merece repúdio
de quem defende o estado de direito.
Merecem repúdio as estratégias que pretendem quebrar essa solidariedade. Compromisso
será reforçá-la. A sorte do direito popular à educação é inseparável da sorte, do avanço,
da garantia de direitos dos trabalhadores à educação. Por essas lutas estamos solidários.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Poema do perdão



Para um tal pedido de desculpa
perdão, não basta.
Há de haver poesia!

É destas coisas,
das entranhas,
que brota a desculpa-motivo
de dor e poesia.
É um mosto de sangue e carne
moída nas ruas de uma existência
erma na cidade de luzes e cantos.

Quais cantos?
Lá existe conhecimento?
E erro?

Cabe perdão a meu erro?
E me calo.


Ecoam as vozes tristes
e com raiva por estarem tristes.
Foste tu
ingrato, insensível,
monstro!
Não viste?
O amor esteve sempre presente.
Notaste?
Estavas tu, então, presente?
E no presente dela,
onde estavam seus olhos,
seu presente?

Olhos nos olhos.
Decepção de teus olhos
pela tristeza dos outros olhos,
que feristes.
Quê causas-te?



Não só perdão, meu amor.
É pouco.
Para meu amor, todo meu amor em desculpa,
meu ser em lágrima torta de poeta, em poesia.

É a dor meu alimento, amor.
É saber dos sentimentos tortos, minha busca.
Sou ermo, sou torto.
Para ser poeta!
Ama este amor com paciência, amor.
Perdoa este poeta insensível que te ama.

Toda esta dor em apenas uma pergunta.
Posso caber novamente em teus braços?
                                            seu cabelo?
                                      em tua cama?
Cabe perdão a  meu erro?
Cabe desculpa a minh’alma?
A de amar ao poeta?

E me entrego.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Um tal manifesto


Por um amor clichê e ardente!,
um sempre animado; que só agregue.
Pelo amor escancarado – da porta para a rua.

Um amor extrovertido e calmo
sem abuso, sem roubo
e sem mágoa.

Aquele amor sincero e limpo.
Amor de companhia; envolvente e sem armas.
Amor,
que não iluda.

O tal
            que é de todos,
            que é para todos, plenamente
Amor que sorri em amizade.

Amor que sente e fundi e mistura e sente
                                                                       de novo.
Amor com compaixão.
                                   De novo.
A môrquinclua.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Regionomundialista


Senta
afina o rádio – solta pipa.
                                        Mastiga
                                        o tanto mundo
                                                     o tal do mundo,
                                                                   o operário.

Escuta,
mira e executa.
Acusa,
a tal da cura, a dita cura, a cuja:
A disciplina!                   (2x)
Para patrão e delegado.

Espanta,
              que tanta gente tá calada!
Não fala
(deve de tar silenciada)
"Deve de tar atrás de cargo de empreiteira!
 Deve manter a boca fechada!”

Não esqueça,
                     trabalhe.
Mas deve ser para seu sonho;
se quer saber, (...)
                              Saia de lá da propraganda,
                                                  entenda a trama
                                                  e também trame
                                                  se informe,
   saiba do mundo e se posicione.


Vou andar por aí
e conhecer as esquinas do mundo.
Vou estar por aí
e dividir as mazelas com o mundo.
Vou cantar por aí
meu manifesto pelas esquinas do mundo.         

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Escrevo


Insisto em versos, são o que tenho
e não tenho medo se repetitivo.
Não escondo minha vontade
quero o humano submerso em arte
e digo direto, sem máscara ou firula.
Tenho um coração imenso
- que não sendo oco –
sinto muito.
É dele que preciso dar conta.

Para além dos detalhes é tudo enfadonho
e não quero desperdiçar meu tempo.
Me interessa saber dos retalhos da observação
que só atentam aos olhos mais treinados e atentos.

* Dois pássaros ao longe, um cinza outro preto,
   que se dispersam na paisagem de uma cidade.
* Maritacas conversam em canto
   logo acima da obra de um prédio.
* Das bougainvilleas, de beleza escancarada
   impossível não serem notadas.
   Poucos ligam nome à pessoa.

E perdem-se os olhares
em um tão vasto mundo de produção.
Obrigados, todos nós!
E sorriem coronéis, comandam patrões.
Obrigado...
Obrigado...
Obrigados!

Mas insisto em verso, não esqueço minha vontade.
Submerjo em arte e digo sem firula:
“Tenho um coração imenso,
que não sendo oco - sinto muito -
é dele que preciso dar conta.”

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Futuro?

Meu desabafo é curto, derivado de afasia.
O tempo não pára mas seus habitantes não se desenvolvem,
estações e sombras se movem, como na tela passada às pressas, por um impaciente zapeador de destinos,
tráfego severino - retirantes da minha própria mente,
fugindo do pesar de não zarpar, parar, pensar, realizar.

A batida é a deitada no travesseiro,
um meneio, minuetos de tercetos,
daqueles que só paleta velha consegue tirar...
Reverbera e estala, consagra e respira
a cada gole,
galões de prata que descem garganta adentro,
pois ouro, ah o ouro...
Desse mesmo só ouvi falar...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Último suspiro


Era manhã no inverno em que nasci
e a beleza do céu azul e limpo
fez parte de mim desde que vi.
A partir do frio percebi que desejo
é de afago e afeto;
que amor é cobertor envolvente
coberto por aflições do mundo exterior.

Segui o impulso e busquei o que faltou.
Sob o sol, ardi.
Em febre de juvenil quis amar a todo custo.
Sem método, sem alvo,
sem saber o que é rima.

No encalço do escuro abaixo da lua
segui rastros e traços,
vasculhei sombras e sobras.
De amor na lixeira,
alimentei-me, sendo nada; sendo podre.
Como bicho, como trapo,
como ser desconhecido.

Sem êxito, agora, no fim do dia
recolho-me ao lar e aninho o leito
em que deito a espera,
sem ânsia.

Não me iludo antes do último suspiro,
da morte do dia perdido.
Sei quem sou: o que fui;
Sei quem és: a que foste.
Só,
Ausência!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Espelho

Sentimentos escritos em um espelho
Que para mim tinham um significado
Mas na verdade eram totalmente inversos.

Os Sentimentos e as Dores

Dores que remente a saudades
Que são sentimentos puros de saudade
Que ficam sendo Dores
Dores por varias coisas

Dores de que são saudades,
Dores que são Desejos,
Dores que são aquilo que um dia se quis,
Dores que são aquilo que um dia se perdeu

Estas dores são frutos de desejos
Estas dores são frutos de medos
Estas dores são sonhos
Estas dores em parte sou eu.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Vai pesar o dia em que me abater, doentio,
Mas tendo você ao meu lado, não se abrirá a ferida,
Não será nada além do frio.
Velhor e cansado, não vai adiantar o ser ou estar,
Só restará o ter sido – tecido retorcido –
Mas não desaprenderei a amar, e vou
Reconhecer o teu cheiro, embebido,
Nas colônias de um amor senil,
Embevecido nesse cheiro, permanecerei.

Vou adorar o momento em que, no ocaso da vida,
Quando sentares ao meu lado e disseres, ao moribundo:
Vistes, valeu a pena cada segundo,
Tua morte se justifica e ainda há amor no mundo
Com o peso das tuas chagas, com o sangue das feridas.

Não lamentarei, não me ocuparei de refletir, mas
Saberei no exato instante, que realmente,
Fui feliz...

terça-feira, 7 de junho de 2011

Deixe estar


Tudo bem, deixe assim.
Aperte as correntes no peito,
sufoque o afeto,
amarre o pescoço
e proíba o beijo.

Tudo bem, mantenha o veto.
Macere o homem
segure seus braços
cimente as pernas
e faça a saída ilegal.

Cá do meu lado, não mudo:
contínuo desobediência,
mastigo o verbo e insisto;
que se discuta!

Por quê fome e guerra
             corruptos permanentes
             pobres caçados
             digníssimos malignos
             mortos os santos
             falta de amor
                          arte
             machismo?

*        E principal, quem ganha com isso?

Quem disse que só dinheiro vale
                           vale tudo por dinheiro
                           só é feliz um indivíduo
                           competir é a melhor forma
                           discordar é crime
                           exclusão e abafo resolve
                           tem que ser de morte a pena?

*        E, por favor, quem ganha com isso?

Deixe estar, jacaré;
me espera.
Em espera
quero ver o inflamar da ferida
o supurar da chaga
o furor da massa.
Que de comprimido, racha
o vidro de informação
             - falsa –
e mande à merda a prática de morte
dos Estados e de seus chefes.

Espero
            o povo das ruas
            com o povo nas ruas
                                 nas ruas de subúrbios e centros
de mãos dadas na Internet
retribuindo em troca
flores de bondade aos males.

Que seja arte a bandeira.
Que ela esteja na vida!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pra ela

Todas as noites encontro uma mulher
Os cabelos em caracóis e cachos
Nem sempre bem ordenados
Como a me dizer: toque me!
Fui feito pra ser amado!
Por vezes, me aproximo,
Por outras, me afasto,
O fato é que tal mulher,
Deixou meu peito em descompasso.
Arrancou todos os tijolos do meu muro
E deixou profundas as unhas na minha carne.
E para além do destempero,
Só há um objetivo em mim inteiro,
Até a morte poder vê-la
Seja em sonho, seja ao vivo
Seja torto ou seja firme
Que ela me ame ou não.
Gostaria ao menos de que,
uma vez por dia,
pudesse sentir seu cheiro
ou segurar sua mão.
Não é a libido ou lassidão,
É a verdade de alguém,
Que só quis fazer uma vez,
Ato nobre que é doar seu coração.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O trinco

"Que para ser o inverso
antes há,
de ser o mesmo..."
             e vide o verso
             e mire o espelho
             e quebre.   (aqui é pra colocar aqueles  tracinhos de idem)


deixe a imaginação
                do barco correr

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Confesso

Queria mesmo – meu sonho seria –
catar todo o mundo a partir de seus restos,
de seus rastros sobre o que se segue.

E representá-lo imundo em música;
glorificá-lo irônico em prosa;
matá-lo em drama!
morrê-lo em silêncio...
vivê-lo em vida,
senti-lo em absoluto.

Mas confesso culpa,
peço desculpe,
sou apenas poeta.
E meio moribundo,
em nada fazendo –
me ocupo:
De traçar verbo
pra tratar de mundo.
Em linhas de amálgama,
do sentimento à poesia,
sigo em forma de escárnio
em difuso elemento uno,
rumo-pró descentrar idéia,
Conhecimento: em cada esquina estudo.

In formação livre,
em forma livre,
de  ação livre,
De forma livre ,
Poluo!

domingo, 10 de abril de 2011


Ruas!
Imundas e esplendorosas
de variedades todas geografias,
várias interpretações
a compor vasta teia.
De existência!
Em olhar – entretantos –
Sociológica.
(a tal ponto, rica análise,
de ver em todas, cada única
imundice esplendorosa).

Às frentes das casas
seguem rumos que refletem -
Dia e noite -
organização do caótico!
Expressam a vida de um
ser em realidade,
humano.

            ***

De pensar na vida que corre
E olhar para cima de orelha baixa,
Trata quem,
O intelecto:
            “um ser que vive
            pensa o que faz, e exerce
direito de discordância.
            O que reflete em sua ação
            em coerência de virtude
            diária.”

Da expressão,
linguagem trata!
Em confusão de saber o que é arte,
se pintura é tinta,
ou poesia, grafita?
Se filosófica e/ou poesia.
Julgamento não cabe.
Não há crime!

Segundo motivo justo,
sigo,
      porpouco,
                    a poetar incompreensibilidade.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O parasita não exita.

Para e cita suas bobagens.

Bobo ou não, tem coragem

E êxito.

Como age,

Ganha suas insígnias de bravura.

Para qualquer bravo à altura,

Insignificantes.

Mas não para o parasita,

Que insiste em agir.

Contenta-se com a imagem.

Quem a faz?

Qualquer um com menos coragem.

Imaginam ser importante a altura do som,

Que atordoa.

Não importa quem engole a lavagem,

Ou a quem doa.

O parasita continuará abraçado à sua coroa

quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma orgia sonora invade meus ouvidos.
Sirenes, palavras, carros rugindo
uma irônica paródia musical orientalista...

Todos os sons invadem a minha mente,
e essas vozes não tem nome,
esses carros não são reais,
esses ônibus, não sei para onde vão.

Embalagem aberta
por alguém ao meu lado.
Pessoa sem rosto, sem cor,
somente o barulho leve
de uma embalagem sendo amassada.

Motos, motos,
enxame sonoro.
Alto, agudo,
perigoso.

Os barulhos da cidade me invadem,
me tomam, preenchem, consomem.
Crianças em um balanço no parque,
propaganda política,
tiros, batidas de carro,
beijos, uma televisão ligada,
o leve som de um abraço.

Todos os sons da cidade,
todos esses sou eu.
Mas eu não sou dono da minha cidade,
não consigo vê-la.
Há muito não vejo nada.
Há muito
não vejo nada.

sexta-feira, 4 de março de 2011

do saber do velho

Em um dos dias
de andança pela vida
em indas e vindas
de vidas em indas,
conheci um velho.

De andar um pouco encurvado
olhos espertos, indagativo
das incertezas da certeza
de quem caminha
e muito já caminhou.
Um velho
já careca, ainda grisalho.

Este velho amou, casou
desquitou, retentou
filhos e filhas, criou.
Viuovou.
Sempre, muito trabalhou
de dia-a-dia em obrigação
da roça de casa simples de sapê.

Era um velho.
Que pouco falava, só na hora;
Que vivia em casa de pouca mobília;
Que nas estradas muita gente via;
Que depois das obrigações
do trabalho e da TV de todo dia,
depois de beijar a mulher e ninar os filhos,
se sentava à mesa pequenina
debaixo da luz da sala/cozinha
via estrelas e pensava,
refletia a vida.

Eu queria saber,
do velho,
do saber do velho,
sobre a vida.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Agonia

Este verso que salta da garganta
e escorre em mágoas pela tinta da caneta,
é a história corrente, chorada
vista nas enxurradas dos becos
e bocas sofridas,
desesperada.

É o mesmo
do órfão que chora
num canto esquecido da cama
do abrigo que não completa o sonho
nem livra a carne
da memória do abandono.

É a mulher que não sabe
ser senão traída.
E ama solitária a sumir na cabeceira
e enxugar no lençol
a lágrima desmerecida.

É aquele,
o sapo engolido
por quem não concorda mas tem chefe.

É a voz que quer gritar,
mas cala.
É a vez que já não importa.
É o trem
que já não vai pegar.

Para senti-la, é preciso,
sentir que não vale a pena
e desistir.
É a vida que já não deseja.

Para escrevê-la é preciso um ato
de desespero máximo, último.
Ir às ruas em horário de pico
sem explicar um tiro;
suicídio.

Para dizê-lo:
Esta vida já está morta!
Morrer dela é tentar sobrevida.

São todos os sentimentos
em retalho único que gira em tormenta.
Do qual nada se entende,
mas tudo assenta.

Meu ardor

Desculpe se insisto em versos
com intuitos secretos
e lágrimas nas mãos.

Se me derreto e pingo
sem um pingo de vergonha
é Para dizer-lhe:
“-Não concebo viver sem paixão!”
E mesmo louco ou mentiroso
prefiro o ar e a dor
pulsantes
no peito.

Por que se para viver ditado
é que se torne silente um coração,
revolto-me em choro
e lacrimejo a dor do abafo.

Então, se me atiro em poço
sem pensar aonde é o fundo;
se entrego tudo e me estrepo
vou à lona, bebo a lama no chão;
se não tenho carreira
ou futuro promissor,
É argumento
Mais valer o que sinto
sem razão.

Em meu tempo
de presente,
busco o coração.

Em espera a poesia ronca em súplica
alguém que espante a solidão,
alguém que viva por paixão!