quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma orgia sonora invade meus ouvidos.
Sirenes, palavras, carros rugindo
uma irônica paródia musical orientalista...

Todos os sons invadem a minha mente,
e essas vozes não tem nome,
esses carros não são reais,
esses ônibus, não sei para onde vão.

Embalagem aberta
por alguém ao meu lado.
Pessoa sem rosto, sem cor,
somente o barulho leve
de uma embalagem sendo amassada.

Motos, motos,
enxame sonoro.
Alto, agudo,
perigoso.

Os barulhos da cidade me invadem,
me tomam, preenchem, consomem.
Crianças em um balanço no parque,
propaganda política,
tiros, batidas de carro,
beijos, uma televisão ligada,
o leve som de um abraço.

Todos os sons da cidade,
todos esses sou eu.
Mas eu não sou dono da minha cidade,
não consigo vê-la.
Há muito não vejo nada.
Há muito
não vejo nada.

sexta-feira, 4 de março de 2011

do saber do velho

Em um dos dias
de andança pela vida
em indas e vindas
de vidas em indas,
conheci um velho.

De andar um pouco encurvado
olhos espertos, indagativo
das incertezas da certeza
de quem caminha
e muito já caminhou.
Um velho
já careca, ainda grisalho.

Este velho amou, casou
desquitou, retentou
filhos e filhas, criou.
Viuovou.
Sempre, muito trabalhou
de dia-a-dia em obrigação
da roça de casa simples de sapê.

Era um velho.
Que pouco falava, só na hora;
Que vivia em casa de pouca mobília;
Que nas estradas muita gente via;
Que depois das obrigações
do trabalho e da TV de todo dia,
depois de beijar a mulher e ninar os filhos,
se sentava à mesa pequenina
debaixo da luz da sala/cozinha
via estrelas e pensava,
refletia a vida.

Eu queria saber,
do velho,
do saber do velho,
sobre a vida.