quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cativeiro

Por achar em todas as coisas mínimas o passo da maior grandeza eu me ferrei...
Querendo ver qualquer merda de qualquer humanidadezinha cultivada num apartamento.
Cercado por coisas que não são minhas mas, coisas que me detêm. Nada além de um prisioneiro.
Se possível encher a cara de ódio e vodca, para passar pelos outros idiotas sem ser notado.
Fedendo a sexo antigo, fedendo a suor de uma maratona que não percorri.
Uma batalha de outrora me faz ainda pensar que estou vivo.
É só nostalgia daquilo que não vivi.
É saudade das coisas que não virei a conhecer, mas que, caso tenha a oportunidade, explodirei sem pestanejar.
Queria voltar a rever aquelas montanhas, a única coisa real da minha vida. Aquela muralha que me aprisionava, também me tornava mais casto, mais puro, menos falso comigo. Porém hoje, quando vou até elas, elas se recusam em vir até mim. Não é uma questão de escolha. É uma questão de irreversibilidade.
Os olhos mudam com o tempo, o corpo muda com o tempo, o tempo muda com o tempo.
O tempo é o grande inquisidor das nossas vidas, e qualquer sentido que não se submeta as suas questões perece inevitavelmente. Burlar-lo é impossível, aceitá-lo ainda menos.
Como se por uma conspiração interna, vi que estou fechado, trancafiado no mundo e não consigo retomar a liberdade que está dentro do eu... eu já não existe... eu já era!
Então o que resta?
Acho que encontrar aquele resto de dignidade que guardei no fundo da gaveta do lado daquele revólver. E então carregá-lo com dignidade e disparar!
Contra mim? Contra alguém? Contra todos?
Não importa! Nunca será contra mim, nunca contra todos. Porém, toda vez que disparar contra mim atingirei alguém que cativei. O que, na verdade, não faz a menor diferença.
Já é tempo de libertar os cativos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Quem somos?

Preocupado em fazer as coisas;
Esquecido de ser os homens;
Confinado nas paredes cinza;
Acabado pra entender que somos,
Fulgazes vítimas das fomes;
Violentados pelas autoridades;
De quem não tem sonhos,
Pra outorgar vontades;
Viver por caminhos insanos.
Como fazem as pérolas,
Ao devorarem os porcos.
Pois tudo que é valor,
Se dá na aparência criada
Pelo ato de subjetivar.
Quem somos?

Do porque de mover-se...

Do porque de não conseguir mover um dedo
Surge a pergunta, que é na verdade anterior:
Qual dedo deve ser movido?
Da vontade de escapar do corpo dolorido
Vibra a alma toda num temor
Com qual arma morre o corpo já falecido?

Com o tempo que passa numa intensa lentidão
Quebra-se o pensamento que não argumenta
Mas torna-se apenas um zumbido
Que faz doer as vontades não saciadas,
os ventos não sentidos, os frios não aquecidos.

Queima forte a gélida amizade
Constituída com o não, com o niilismo
Que vai fazendo a vida, cadinho por cadinho,
Entornar um ácido no céu da boca.
Para que, a língua ardente,
não faça mais nenhum sentido.

Se, porém, quer mover-se,
Não se mova pensando.
O mundo foi feito pra estar
E nunca pra ser estando.

Quebra de página

A contradição que me consome a alma
é notar que o amor não é prático
e saber, após ter amado,
que praticamente
nada mais importa quando se ama.

Saber que frente a esta escolha,
não ousam passar por esta porta,
causa-me estranhamento desconfortante.

Se é meio louco abandonar o mundo
irresponsavelmente
prático para produção e consumo
e alçar vela para amar sem rumo.
Quebro o espelho e inverto tudo.

E finco o prego, bato o martelo;
decreto!
Louco é o mundo de quem prefere
"funcionário do mês" a "amante vagabundo".

Não!
Nada entendo de ser adulto.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mascara?

Quem esta atrás desta mascara?
E a pessoa ou Personalidade?
Quem se esconde por trás de uma mascara?
E o individuo ou a fantasia?

Quem realmante e este que usa uma mascara?
Quem realmente se esconde por trás desta mascara?
Quem e a pessoa que usa uma mascara?
Quem é que e a mascara?

E você que usa a Mascara?
Ou a mascara que usa você?
Você sabe dizer?
Ou você vai ter que escolher?

Quem realmente e a pessoa?
E quem realmente e a mascara?

Vamos Lá

Vamos viver e vamos seguir
Um passo de cada vez,
vamos viver um dia de cada vez,
Vamos aproveitar a vida ao maximo

Vamos amar nossa familia,
Vamos amar nossos amigos
Vamos amar nossos entes queridos
Vamos nos amar.

Vamos todos seguir por nossas estradas
Vamos procurar caminhos
Vamos seguir caminhos
Vamos viver nossos caminhos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nada disso

Não me venha com amor de fim-de-semana.
Hora marcada: quinze minutos/
pausa para café...
e pressa pra trabalhar.

Meu amor é sempre. É toda hora
e com pausas para viver o resto.
É todo-dia o dia-inteiro
e da noite até dar amanhã.

Amor é justa causa pra esquecer o mundo,
não leva em conta trabalho ou estudo!

É buscar o outro incessantemente.
É querer saber dos caminhos...
e dos atalhos, principalmente.

É conhecer os pontos certos do corpo
e os cantos profundos da alma.
É não se contentar com pouco.

E é rápido,
vem depressa,
arrebata!
Não admite medo
e não aparece para quem não tem vontade.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Profissão desacato

Eis nós que cá estamos!
Vestimos suas roupas para enganá-los.
Falamos sua língua para desvendá-los.
(...) esperamos derrubá-los.

De nem tão longe nem tão perto viemos,
estamos
em todo lugar.
Abaixo do véu de suas mentiras,
sua fumaça,
não nos entope a vista.

Se enganaram com o que esperavam!
Não nos dobraremos a seus reis de plástico
não sentiremos seu amor de venda
não seremos mero decorativo
ao saber de seus sábios falsos.

Já estamos fartos de novelas,
seus papos tortos não serão nosso ópio;
temos certeza em ser seu monstro.

Nosso orgulho é ser sua escória
a fim de mostrar-lhe, tal qual espelho,
a tua verdadeira face.

Propomos o que temos
e ser é ter a si mesmo.
É uma guerra;
vá para a linha de frente sabendo o que quer dela.

Garoto, carregue a mochila com molotov!
Não aceite seu preconceito,
faça-se grande em conhecimento.
Não semeie o grão que lhe venderam -
não diminua como arma -
e não se cale frente ao desrespeito.
Não viva a vida que te deram,
dê a eles o que quiz dela!
Construa seu castelo.

Aqui jaz aquele que pensava
que devia viver em termo alheio.
Aqui jaz quem não sabia
o valor do seu tempo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Morar na estrela!

Iraê, vamos morar na estrela?
É que hoje me peguei cansado
de toda essa gente se achando enorme
com tanta pompa, dinheiro e coleção
daqueles itens de segurança.

É que essa caixa de cores
não pára de impor-me
regras de roupas, segredos famosos
ordem de voto, manual de alheio.
E hoje me peguei cansado!

Já não quero mais os apetrechos
que me enfiam guela abaixo.
São flores de plástico,
sonhos de pré-moldados:
felicidade já vem embalada.
E nada me importa;
sou eu que exijo medida drástica.

É que hoje me peguei cansado
e essa caixa de cores não quero mais.
Nada mais me importa, então,
exijo felicidade drástica.
Quero regar meus sonhos
e plantas com sentimentos.

Então pensei que a gente podia
passar o dia
inteiros na praia.
E se não for o sol, quem sabe a lua
que nos aqueça a ponto de ebulição
e a gente possa, então,
quem sabe Iraê,
ir morar na estrela?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Todas as noites, no auge da descrença,
peço a Deus que me retire do mundo.
Que evite a chegada do momento
Em que o insuportável se torne o mote
Da vida que ainda agora me interessa.
Peço que, com sua clemência,
me retire de vez o ar.
Me retire a visão, olfato, tato e paladar.
Pra que não possa ver o escravo a trabalhar,
Por que não quero cheirar o sangue no altar,
Pra que não possa eu, também, me mutilar
E pra que não saboreie o suor
daqueles que não poderão provar
do alimento que foram obrigados a cultivar.
Mas, principalmente, peço que me retire a audição.
não quero mais ser acossado pelas frases,
pela falta de sentido que apregoa todo homem do mundo
quando quer mostrar verdade naquilo que não passa de discurso.

Por favor, Deus, mate-me já ou faça jus ao que criastes neste mundo!

De médico, um pouco

Só venho aqui hoje dizer-me
a fim de resolver mal entendidos.
É que sinto que julgam-me
pela pouca, paca aparência.

Julgam que vivo em paz;
não sabem das voltas que já rodei.
Para tudo o que vi e descordei
carrego uma bolsa de pedras
previamente polidas e miradas.
Reservo-me o dever de esperar calado
para na calada acertar o ponto nevrálgico.
Sem risco de ser descoberto,
já que em permanente guerra.

Ainda, contudo
xingam-me desordeiro.
Mas se olharem a situação de dono e empregado,
faço muito bem o propôr do desacato.
Ou é dever de alguém aceitar se explorado?

Dizem-me aéreo, lento;
não compreendem: onde estou não há tempo
a desperdiçar em jogos pequenos.
Não me ligo em representar máscaras
de poder e status - ilusões e engano premeditado.
cobra-me forte no peito ser, eu mesmo, sincero.

Quando se sabem que nada de mim sabem,
classificam-me, sem dó, louco.
Mas quanto a isso defendo-me pouco;
de viver em contradições e não entendê-las,
digo-me normal até sóbrio.
Porém, quando frente a isto
resolve-se a escrever poesia; só doido!
Posto que só poetas
têm coragem para ser loucos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O meu projeto de vida

Eu queria dizer-lhe isto apenas.
Escrevo por não possuir megafone ou rádio e antena.
E digo por não conseguir apenas
guardar o que sinto dentro do peito.
Indigno-me.

É preciso dizer à ela
àquela rosa que brotou ali
no meio da cidade.
Quebrou o asfalto, negou o escarro
e quase morreu comprimida por fumaça.

Não é ela quem precisa saber
que a beleza é forte e se faz presente.
Não é ela quem precisa ouvir
que o amor vive;
e tolos os que dizem que não.

Mas escrevo para dizer-lhe
que alguém a viu e lhe agradece
simplesmente por que ela existe.
Que a vejo como exemplo e a amo de graça
por ser singela com tudo isto à volta.

E aproveito para dizer
que este cinzento é feio, chato, mandão e sem graça!
Que você é linda e sempre terá espaço
por que é rosa, rosa
e não se importa com ele.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Past Tense

Se ainda naquele momento houvesse coragem
Pronunciaria teu nome uma derradeira vez
Deixaria de lado as incertezas da viagem
E pensaria concretamente na nossa inequívoca nudez.

Mas não teci as verdades sob o firmamento
Que de passagem parou para ver que acertava
Quando da aposta na minha incapacidade
Mais que declarada na minha mudez.

Não quis ver pela noite, rua, cidade,
As nossas mãos perguntarem porquês.
Já tinha certeza que, daquela feita,
Estava concluído o trabalho.
E que não seria
um chão, um teto, paredes, retalhos...
que promoveriam aquilo que o amor não fez.

E com o céu, que agora já não pára,
Você seguiu, sem olhar pra trás.

Eu ainda estou naquele tempo que não passa
Olhando em volta, em busca de voz.
Porém, já não há casa para alguém que se separa
cuja alma fica no passado - uma navalha.

Se mesmo o sangue que agora corre quente
Não se arrepende dessa senda já tomada
é porque o corpo já não estava mais presente,
e nosso enterro independe da mortalha.
Já vão queimando esses pensamentos tortuosos
Já não existimos nesse campo de batalha.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Esse amor para que você queria?

Para que você queria esse amor?
Para que você me pediu para te amar?
Se você não me ama assim?
Para que tudo aquilo ?

Para que você queria?
Esse meu amor?
Para por numa prateleira?
Para guardar numa estante?

Eu sei para que você queria?
Para guardar no seu coração!
Para ficar do Lado do meu coração!
Mas o que foi esse amor?

Para mim foi de um jeito?
Para você foi de outro?
Qual foi o certo?
Qual foi o errado?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Declaração de Independência.

A partir de hoje, declaro

Todo prazer insaciável

Toda dor incurável

Todo corpo intocável

Toda dúvida inacabável

Todo pesadelo alcançável

Toda indiferença abominável

Todo medo tornar-se-á vil

Toda lembrança esquecível.

domingo, 8 de agosto de 2010

Amar

Sera que eu te esqueceria?
Sera que se eu te amasse poderia te esquecer?
Sera que eu poderia viver sem você?
Sera que eu estaria agora sem você?

Se eu te amasse te diria,
Te diria de um jeito especial,
Te diria do meu jeito.
Mas te diria,

Como eu te amo,
Aceitaria você como você é,
Aceitaria tudo em você,
Aceitaria uma coisa,

O fato de você não me amar,
O fato de você amar outro,
O fato de você ser feliz com outro,
O fato de você estar feliz com outro,

Aceitaria tudo isso de verdade,
So por ter te amado
Amado de verdade
Amado com meu coração de verdade.

Sonhos

E tenho varias angustias,
Eu tenho varios sonhos,
Destas angustias eu não
Sei quais sonhos vão se realizar

Mas eu sei,
Que nunca posso parar de sonhar,
Nunca posso deixar
Estas angustias me dominar

E se um sonho vier a realizar,
Sei que posso viajar,
Posso seguir,
Posso voar.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mas, antes de qualquer coisa, eu preciso aprender a fala.

Aprender a dizer as coisas, retas, sem dar asas ao drama,
desfazendo tantas tramas na descomoção dos lábios tensos.
Tenho que desimaginar a contínua transa entre o espírito e matéria, deixar de ver nas pedras substâncias nada etéreas;

pôr de lado tanto sonho e perceber que é no mundo que mais medo escondo.

Tenho que olhar menos nos olhos - pessoas jamais entendem gestos - querem na doçura da boca ver ruir todos os sonhos.
E ver que se faz de palavras o seu mundo concreto.

Pois é prejuízo meu: saber que sou feito de carne e não de verbo
e ainda mais saber que é inválida a minha postura.
que preciso apalavrar-me, descarnalizar-me.
É prejuízo meu!

E é também só lembrar-me defronte ao médico que corpo e coração e fígado e cérebro são vocábulos,
e que ossos,
são os que sustentam.

Não obstante, para a minha última esperança, ainda não me conveceram de que alma é palavra.
É assim que dissolvo-a (matéria); desse modo que ainda penso fazer dela minha escrava.
28/07/2010
Cantei canções de esquecimento,
quis ver minha memória desaparecer,
e sentir morrer com o tempo
o trauma que da vida é crescer.

Mas, mesmo indo a deusa
Parar bem longe de mim, com o vento,
é difícil retirar o que da vida mesma
Já marcou e está cá dentro.

E não há mais profundo turbilhão,
mais intensos e determinantes sofrimentos
Do que aqueles que mesmo sem explicação,

São feitos na carne e não na história,
Não dependem da razão ou de Minemosine,
deusa que de uma só vez, nos conserva e nos oprime.

27/07/2010
Frente-a-frente; face-a-face; dia-a-dia; passe e impasse.
Dei voltas na cintura do mundo,
Vi gente viva e também moribundos,
Galopei cavalos e tanques,
Subi em nossos altares e nos palanques.
Cri em nossas medidas e em nossas chances?
Ganhamos mais nas derrotas que nas revanches?

Como saber afinal se é o alvo ou a fecha?
Se o arco ou arqueiro?
As formigas ou o formigueiro?
Minha mãe ou o mundo inteiro?

É de vontade de saber que me afasto, bem matreiro...
E me reservo de perguntar sobre o que é pequeno e corriqueiro; e me perco a devanear o universo num cinzeiro.

Conjecturo constelações, outras terras, mundos, reinos, deuses. E acabo por esquecer-me do porque abstraio: é para não ver repetida no mundo, a minha imagem em tantas vezes...

27/07/2010

Doença

Não entendo o que se passa

Mas, no entanto não deixa de passar
Talvez seja apenas uma farsa
Que insiste em figurar

Mesmo assim ouso falar
Ouso contar o que sinto
Ouso gritar minha doença

Que não sara
Que não é rara
Que me faz torpe


Em vão poucos escreveram longos discursos para posteridade
E sem notar a si, todos acataram e cantaram as palavras vazias

O que era sensível,
O que era idéia,
O que era apenas palavratório
Fixou-se no espaço e nos concentrou o tempo

Paramos de pensar de fato
Passamos a correr pela mente caduca e humana
Pesados, cheios do fardo meditativo

Não basta mais viver é preciso mais!

É necessário o constructo imperativo que nos regula
É preciso deixar a matéria de lado e se chafurdar na lama intelectiva

Enquanto os santos nos ditam a imoralidade dos costumes
E os ascetas isolam-se em um mundo metafísico e impalpável
De tamanha consciência hiperbólica

E os brilhantes oradores do Ser rezam-se


O vegetativo senso comum é que possui mais bom senso:
Utilizar, desgastar o fruto de nossas próprias quimeras até o máximo
Até o fim, até o píncaro!

Quando não pudermos mais... Cairemos fartos e amargurados de nos mesmos
Cantaremos os salmos da boa nova
E nos sentiremos plenos de consumação
Saberemo-nos doentes de almas santas
De corpo são e purificado

Saberemo-nos doentes, meditativos e intactiveis
Saberemo-nos doentes , lotados de gozos e fartos de desejos
Saberemo-nos doentes

Por fim, faremos Filosofia.
Por sermos doentes de corpo e alma
Com a alma pura e o corpo são
Por sentirmo-nos mais doentes do que somos de fato.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dei ao teu corpo uma nova qualidade,
Fiz dele uma memória alva
e como se me escapassem as coisas
vivo nele como numa cidade.

Percorro em teu seio, um palavrório,
que de uma saliva imaginada
tornas a minha língua, quente e faminta,
nas tuas costelas, gesto mais simbólico.

De tua meninice percebi uma sina:
Não há nada em teu ventre que me permita enganar-me
Não há nada em teu sexo que impeça que eu minta.

Nunca em teus cabelos negros
haverá tanta profundidade
nem mesmo diante da desfaçatez
de um poeta que te cativa,
apenas porque dele, já se esvai a mocidade.
Dormi e acordei
assustei-me mas não cedi
ao sonho que me aconteceu
quando pensei e não dormi.

Comi mas não sentei
à mesa em que já senti
que fiz parte de alguém
algum lugar ou aqui.

Sofri mas não amei
porque já não quis sair
da treva em que depositei
o meu novo jeito de sorrir.

E como agora já não sei,
o que há de ser pra mim...
José! me ajude a dizer:
"Só sei que não vou por aí!"

domingo, 4 de julho de 2010

Ser feito de concreto

De manhã cedo
ando pela cidade
como quem carrega um soro.
Pesado fado de quem está vivo.

Primeiros raios de sol
e não vejo o belo,
enxergo, sim, o opaco,
poluído horizonte do destino
de viver no concreto,
que trago no pulmão encardido.

Corre em meu sangue apenas fumaça.
Vivo como quem morre,
mas esquece ou não sabe.
E vaga maldizendo a sorte
de quem não encontra
verdadeira, certeira morte.

Sofro ao olhar para o lado
e reconhecer a doença
que mata por parasitose.

Vivendo em seu leito de morte,
faltando-me o ar da arte,
maldigo-a, oh! oportunista cidade.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Eu vi todos os medos
Longe, vindo a passos lentos
Sabendo que encontrariam em meu peito
A exatidão dos seus segredos

Bem de perto, o desespero,
Inequívoco pavor, um sem jeito.
Esquecer-me, já não posso... Caminharei
Rarefeito. Sob solas silenciosas
Lanças mil, tantos feitos
Indesfrutados por aquele, cujo sangue
Nauseabundo, desgraçado.
Ganhou o mundo, no meu leito.

Pesaroso, continuo, a viver desse modo.
Lânguidez irresolúvel, voluptuosamente morto.
Ancorado em tanto cais com os meus barcos falsos,
Sábio de sarjeta, aristocrata de nada.
Comendo nos meus vícios a vida debelada
Animal insáciavel, de uma sorte já traçada.
King without a kingdom, priest without faith.

domingo, 27 de junho de 2010

Esquina do mundo

Em um estranho,
o mais estranho dos dias,
nu,
senti o tempo parar em uma esquina.

Enquanto ardiam de ânsia meus pés descalços,
sob o teor imóvel do asfalto
o desfiladeiro de um coração frio tragava o mundo.
“Cego como trator;
voraz como usina!”.

Houve uma chuva fria,
de pétalas e flores constituída.

E no instante do mundo no qual:
• O espaço dilui e se espalha;
• o tempo pára;
• o improvável; nada.
A chuva que caía, logo acumulava.
Formava um rio,
que subia.

De súbito,
um mergulho profundo.
(...)
Fui com o amor, subindo a serra.

(...)
Enquanto a cidade desmoronava,
o rio seguia.
Em forma e perfume de mulher amada.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Esperança

Tomo um café.

Fumo um cigarro.

Leio poucas páginas de um livro e

Nada,

Nada...

Nada!

Leio mais umas poucas páginas

Do mesmo livro,

Pra acender outro cigarro e

Nada!

Nada,

Nada...

Fico na esperanssa;

Este contínuo ato de esperar

Que nunca chega e

Nada!

Ah dá!

Dá?

Acendo outro cigarro e

Volto a nadar.

Um constante ato de acomodar-me com o nada.

domingo, 13 de junho de 2010

O poeta e a uva

Pensando bem, é bom que não me queiras!
É bom que eu não te veja sorrindo pela manhã quando acordas a meu lado,
que eu não lhe dê uma prova do café que faço,
que eu não prove seu tempero no almoço,
nem veja as cores do pôr-do-sol fazê-la especialmente bela
ou sinta seu perfume nas noites em que, vaidosa, se apronta.

Caso assim fosse, aqui, sentado a teu lado no banco da praça,
não me esforçaria para escrever um sentimento.
Não faria nada além de olhar-te, enfeitiçado,
não pensaria em outra coisa que não amar-te,
não existiria senão para fazê-la sorrir.
(serias presença, não lembrança)

Pensando bem, nem mesmo seria eu...
Não olharia para as mulheres que caminham,
não arrastaria asa para um bom rabo de saia,
não gastaria tempo com futebol e cartas...
... talvez até trabalhasse.
(estarias! mas não como saudade)

Muito obrigado por não me quereres,
por desprezar meus intentos;
por negar-me seus sentimentos.
Desta forma continuo como sempre fui...
Vazio.

E posso fingir que estou feliz
fazendo sozinho o que prefiro em conjunto:
Ouvir os pássaros; comentar a beleza das flores...
E posso até arriscar versos,
para mentir que não te amo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Curta a vida

Curta a vida e todos os momentos,
Curta as lembranças felizes,
Curta os amigos,
Curta a familia,
Curta a vida,
Curta cada dia como se fosse o ultimo.

sábado, 5 de junho de 2010

Ipê amarelo

Quando partiu, para mim sobrou
o outono, o sabor de morte.
Solidão é terra morta, rio sujo,
não sobra vida nos olhos...
Não deixa vontade de vida.

Hoje floresceram os primeiros ipês,
cantaram alto os bem-te-vis
e cantei eu que bem vi
Uma formosa flor silvestre; semi-agreste.

À alma que se encontrava gelada
veio o pulsar ardente de uma paixão
e floriram, por toda parte,
na mesma hora, os ipês amarelos.

Tornei-me mulher-flôr de graça singela,
exuberante e independente Tabebuia chrysotricha.
Não mais espero. Vejo-me linda e livre
sou quem sabe onde está e o que faz.

Neste inverno que sucede não esqueço nosso amor,
Foi mistura de almas em caldeirão fervente...
Simplesmente entenda que hoje sou outra.

E carregarei para sempre, em preto e branco,
a linda foto de um grande amor que ficou para trás
enquanto segui com a vida para frente.

sábado, 29 de maio de 2010

Bilhete de despedida

Como fazer?
Estirpar-se do leito amado
sem sofrer?

Conversar por três dias?
Ou simplesmente arrumar as malas
e partir de madrugada?

Preferi sair para comprar cigarro
e deixar este bilhete
que lhe diz "ainda sou seu amado,
amando à distância; em falsete”.

-Por quê partes?
-Porque parto!
Não é falta de amor, nem cansaço de você
ou da vida que levávamos-
campo coberto de flores; madrugada fria com cobertores...
Apenas precisava; simplesmente!
entenda...

"Partir", palavra errada!
Separar-se é como sobreviver a uma doença
e ainda contê-la em sua defesa.
Trazer na alma, impressa, a marca
dos sóis nos rostos, dos campos, das ruas
dos cafés, das brigas, dos lençóis suados;
de tudo que incluiu nossa mistura.

Partir é perder um filho em acidente
e dia após dia vê-lo,
sonhá-lo grande e feito.
Partir é arrancar a faca e unha
as entranhas tuas, que agora
funcionam em meu corpo.
Partir é estar preso por uma vida,
receber, enfim, sua alforria
e perceber que seu corpo habita
uma cidade que sua mente não acompanha.

Sim, parto! Tal qual um mentiroso de cara lavada,
que tem coragem de pular um muro
sem saber o que há por detrás,
e faz-se guerreiro, sozinho e triste,
mas não enfrenta o simples de lhe perguntar-
“és feliz ou algo lhe falta?" -
por faltar-lhe coragem para ser amante.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carpir

Enquanto a vida estoura do lado de fora
É no espelho que vejo o mundo em colapso.
Canso da minha metáfora, canso do meu “Embora”
E recomeço mais um lapso. E ainda fico perplexo!

A vida, por vezes, nem me parece vida...
Quem sabe já estou morto?
E só me resta a despedida
Quem sabe já estou morto?
E só esqueci de cair!

Não vejo futuro no brandir das espadas
Já me basta o quanto luto por mim
Já basta o meu luto

Vocação para carpideira...
Talvez seja isso!
Queixo-me todo dia à morte!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Dentro desta lâmpada votiva habita tua vida
Alma que nos trouxe aos pés de uma realidade
Já trespassada de humilhações indignadas
Obliterada pelas conversas que propõem novas verdades.

Começaremos daqui a pouco a saber amar
Daqui a um tempo faremos um muro, por nós...
E em um instante estaremos mais que sós,
Vai ser o fim da luz da tua lâmpada.

E eu, cidadão, que não habita lugar algum
Vou voltar a buscar a sede que hoje teu vinho sacia
Talvez num porre de conhaque...

Ou talvez, bebendo de volta
o meu próprio sangue que
misturado estará à água fria...

sábado, 22 de maio de 2010

Carta à amada de um soldado entrincheirado

Eu andei na escuridão da vida.
Eu andei no contrapé do mundo.
Eu vi a lua luzindo mulher.
Vi seu amor, a luz no escuro.

Eu vi a guerra na linha de frente.
Vi os cabelos pretos da morte -
o odor pútrido - carne em decomposição;
e vi o que os urubus tramavam...

Eu pisei na estranha liga da lama:
Terra, sangue e desespero.
E apesar do medo do rifle inimigo,
Cara-a-cara, flertei com a morte.

Eu soube que amava a vida,
Quando estive de amores com a morte!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Lua e Eu

De súbito a claridade! Já anunciada entre as linhas que nos perpassam
Mas que jazia escondida no que há de obscuro, no secreto do espelho.
Só o tempo, só o tempo... Que passa lento e caminha com passos firmes
Para resolidificar o sólido e expandir mais o rubro aparelho
E delatar o que seus sonhos cantam
E destruir o que temes

Ai! A solidão irá me acompanhar e não há com não ser triste
O mundo, a vida, a morte até os sonhos nos condenam à dor
Tudo que é torpe é o que existe. E tudo me parte
Cada gesto, cada cor, cada lágrima
Tudo me emociona
É um desastre!

Ai! E o que me rasga é o mesmo que me laça
É o que me faz pedir mais um gole

É o veneno que me chega em taça
É o que há de mais torpe
E o que existe com mais força

Por isso canto e clamo:
Oh lua! Oh lua!

Chegas-me com esse sorriso pleno
Essa fartura de brilho
Esse infinito nos olhos

Chegas-me com essa charla
Com o doce na ponta da língua
Com a palavra que mingua
E com o silêncio que me cala

Venha e não se afaste!
Lua minha
Sonho meu

Venha e não resguarde o sob o véu
Não me impugne teu vórtice
Que a mais pura tolice
É me privar deste céu

Oh lua! Não me impeças de teu brilho
de teu sorriso, de teu calor, de teu rosto
Pois a ti dei-me de amor
E por isso sou roto!

Poesia dedicada à Thobila de Lima Costa

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Suicidio

Meu verso não é palavra solta,
não é assim que se faz.
É carga concentrada...
Raio que corta o céu, fugaz.

Meu verso é dor de coração apertado
De amor engasgado sem poder se dar.
Explode em um momento único:
Lápis e papel, como fosse um tiro.

Meu verso é lágrima de parente próximo,
é dor que não se explica ou conforta.
Meu verso é minha morte atirada em papel.

E dos seus olhos,
lágrimas pretas,
e
s
c
o
r
r
e
m
.

domingo, 9 de maio de 2010

Comiseração

Tento hoje ver o que é a minha vida,
Porém, não sei de onde devo olhar por ela.
Todo o olhar, todo lugar, toda ferida,
Está exposta na alma como numa tela.
As verdades que sempre cultivei,
São como as farças que em meu peito colocou
O mundo, desse medo de viver e ser;
O solo em que ainda piso com temor.
Quero felicidade, amizade, amor.
Mas só percebo inveja, falsidade, pavor,
Hipocrisia em pequenas lições - para crianças -
Condescendência, desânimo, desesperança...
Queria mesmo olhar nos olhos,
Fazer a sonhada dança,
Poder ser pequeno,
Poder ser sincero,
Poder voltar à franqueza da infância

terça-feira, 4 de maio de 2010

Devaneio.

Refresco-me

Com suco de uva

Sacio-me

Na água da chuva

Afogo-me

No prazer da vulva

Transformo-me

Num vadio da vida.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Geografia de Minas

O formato de Minas,
geografia de Minas.
No triângulo, nariz:

Nariz de cão de guarda, que fareja
Investimentos, negócios e truculência...
(por baixo dos panos – pobreza)
Nariz dos moleques... que escorre.

Nariz – que corre,com pressa,empolgado,excitado,
Elétrico sobre a linha branca – que governa.
Quem governa?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Lama.

Com passos fundos

findo.

Passo em passos fundos.

Passos passam fundos.

Finos passos afundam.

Afundo passos

findo.

A fundos passos

fim do mundo.

Arrudas

Silencioso, o rio ri.
Coberto pela massa de concreto
No mais profundo escuro.
Abaixo das ruas baixas da cidade –
Escarro, prostíbulos, ladrões... e papéis.

No escuro, o rio vê.
A massa de ignorados,
O amor dos ignorantes,
A mendicância no Boulevard:
“O bicho”, de Bandeira.

Irritado, o rio chora.
Pelo frio dos desabrigados,
Pela não-escola dos pivetes,
Com a embriaguês dos condenados
À vida de sofrimento.

Na escuridão, o rio sente.
As duras frias margens de cimento –
O enclausuramento (...)
(...) O domínio da pressa.

Sozinho, o rio nada teme –
Não há espaço para o medo
Diante a face da morte.

domingo, 25 de abril de 2010

Meu Afã

E venho, novamente, me contar
(com não me canso?)
Insisto nesse torpe afã
(esgoto-me)
Afim, de quem sabe, a luzes da manhã
Venham me libertar

Rogo um tempo onde a claridade me acompanha
Um tempo em que o véu se desfaça
E eu, farto de ser minha caça
Corrobore com os superficiais intentos

Sinto encorpar-se a questão:
Será que quero me falar?
Será que todas minhas palavras, pretéritas,
por fim, foram em vão?
Ou melhor: vãs!

Há quem diga (eu para mim mesmo)
Que essa luta constitutiva
Essa guerra interna
Não passa de ilusão intuitiva...
Que meu intento verito
A quem dou muitos méritos
Não é nada além de mais uma mascara
Que me encara carrancuda a dizer-me:
Não há verdades para você!

Uma direção

Uma direção, sem direção
Essa e a direção, daqueles que não tem direção
devem seguir a mesma direção, a direção sem direção
Mas qual e a direção ?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bicho

Tem gente que é gente,
tem gente que é bicho.
Eu sou bicho, bicho solto!
Nascido e criado na selva,
selva de pedra, sufocante!
Trocam-se as arvores,
por belos arranha-ceus.
Tenho concreto até no sangue!
Será essa causa da dureza do meu coração?
Diria que sim, diria que não.
Minhas presas, quase semelhantes,
se vestem de lobos, quando são homens.
Devoro todos os dias
essa gente que é gente.

Caça.

Se a canção te cansa,

Para que alcançar o caçador?

Que te caça apenas para

Cansar-se dentro de tuas calças.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

De grande intensidade

Quero um dia, ainda,
escrever o verso mais intenso.
E por ser humano
e por estar vivo,
só poderia tratar de sentimento.

Vivo, pois, cada momento
como fosse um inteiro ciclo.
Nasço, vou ao ápice e morro
em um dia e a cada um deles.

Assim sendo, de manhã quando acontece
de me acometer felicidade
é como gol do título
marcado no último minuto.

Se aparece, no fim da tarde,
uma saudade certa
não incomodo de enganar-me
e minto mais que samba de sambista.

A noite traz com a lua
tristeza de maior calibre.
E sinto-me único sofrente:
todo o frio do mundo
em um coração oco de sangue.

Madrugada, copo vazio de esvaziado,
sou como suicida
de um sem nome desespero.
Destes que pulam da ponte
e deixam pra trás mulher e três filhos.

Os primeiro raios de sol são meu parto.
Como que escondido no porão
em meio a ruínas de guerra.
Sem pai, sem pátria, sem mãe, sem nome.
Deslocado de tempo e espaço...
Talvez seja o motivo
de ser chamado esperança

quarta-feira, 14 de abril de 2010

É um milagre!

"De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo,
segundo a necessidade; pois têm que pagar penitência e de ser
julgadas por suas injustiças, segundo a ordem do tempo"
Anaximandro


Não tenho muito lastro para me contar
Mas mesmo assim ouso
Pois acredito que é no mastro e no velejar
Que encontrarei repouso

O vento que me impulsiona conta-me suas histórias
Com seu singular assobio que hora me afaga a nuca
E hora me causa arrepio

E é com base nas minhas memórias
que reconstruo o que nunca vivi
e faço de tudo para sorrir

Sei que é pesado o fardo
e sinto, forte, a gravidade
Nesses meus dias
Desses meus dias
Por isso meu samba parece fado
E rogo a minha hecticidade
Algo que não sei bem o teor
Mas que grita: alivia-me essa dor

Lagrimas

Se da miséria na vida não podemos escapar
Imagine da morte nem podemos sonhar
Ao menos temos que aprender a lidar com ambas
Mesmo que para lidar com isso
Tenhamos que chorar... lágrimas
Lágrimas de felicidade, lágrimas de saudade, lágrimas de amor
Lágrimas puras e sinceras, que carregam nossos verdadeiros sentimentos
Lágrimas que carregam o que e importante
Lágrimas que contem o que hoje e distante
E principalmente lágrimas que contem o que jamais será esquecido
Ou mesmo perdido...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Repentinamente

Azar:
Asas largas
para voo incerto
da superfície
ao profundo, vou.
Rumo abismo,
único certo,
das asas que ganho em pensamento.
Que ruma incorreto,
pois tais asas
rimam melhor com "erre":
Azar:
...

domingo, 11 de abril de 2010

Manifesto pão e azia

Quando andar tem que
Ser: feito de pressa,
Vamos tapados, cegos.
Bombardeados por
Informações bélico-culturais.

Imagem é tudo é imagem
Objetividade é tudo é objetividade
Pragmatismo é tudo é pragmatismo
Produção é tudo é (...)
(...) é tudo é alienação.

Brindemos nossos sentimentos
Bebamos da água turva
Comamos o véu tão guardado
Gritemos nossas sensações
Vomitemos as angústias.

Revivamos o que foi dito
Não deixemos que o horizonte
Se perca em planos
Guardamo-lo atrás das montanhas
Cercado pelo curral do rei

Causemos asco, espanto, desconforto.
Cutuquemos o ócio,
Sejamos indóceis
Fiquemos mal-falados.
Comamos os esfomeados antropofagicamente.