quarta-feira, 30 de junho de 2010

Eu vi todos os medos
Longe, vindo a passos lentos
Sabendo que encontrariam em meu peito
A exatidão dos seus segredos

Bem de perto, o desespero,
Inequívoco pavor, um sem jeito.
Esquecer-me, já não posso... Caminharei
Rarefeito. Sob solas silenciosas
Lanças mil, tantos feitos
Indesfrutados por aquele, cujo sangue
Nauseabundo, desgraçado.
Ganhou o mundo, no meu leito.

Pesaroso, continuo, a viver desse modo.
Lânguidez irresolúvel, voluptuosamente morto.
Ancorado em tanto cais com os meus barcos falsos,
Sábio de sarjeta, aristocrata de nada.
Comendo nos meus vícios a vida debelada
Animal insáciavel, de uma sorte já traçada.
King without a kingdom, priest without faith.

domingo, 27 de junho de 2010

Esquina do mundo

Em um estranho,
o mais estranho dos dias,
nu,
senti o tempo parar em uma esquina.

Enquanto ardiam de ânsia meus pés descalços,
sob o teor imóvel do asfalto
o desfiladeiro de um coração frio tragava o mundo.
“Cego como trator;
voraz como usina!”.

Houve uma chuva fria,
de pétalas e flores constituída.

E no instante do mundo no qual:
• O espaço dilui e se espalha;
• o tempo pára;
• o improvável; nada.
A chuva que caía, logo acumulava.
Formava um rio,
que subia.

De súbito,
um mergulho profundo.
(...)
Fui com o amor, subindo a serra.

(...)
Enquanto a cidade desmoronava,
o rio seguia.
Em forma e perfume de mulher amada.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Esperança

Tomo um café.

Fumo um cigarro.

Leio poucas páginas de um livro e

Nada,

Nada...

Nada!

Leio mais umas poucas páginas

Do mesmo livro,

Pra acender outro cigarro e

Nada!

Nada,

Nada...

Fico na esperanssa;

Este contínuo ato de esperar

Que nunca chega e

Nada!

Ah dá!

Dá?

Acendo outro cigarro e

Volto a nadar.

Um constante ato de acomodar-me com o nada.

domingo, 13 de junho de 2010

O poeta e a uva

Pensando bem, é bom que não me queiras!
É bom que eu não te veja sorrindo pela manhã quando acordas a meu lado,
que eu não lhe dê uma prova do café que faço,
que eu não prove seu tempero no almoço,
nem veja as cores do pôr-do-sol fazê-la especialmente bela
ou sinta seu perfume nas noites em que, vaidosa, se apronta.

Caso assim fosse, aqui, sentado a teu lado no banco da praça,
não me esforçaria para escrever um sentimento.
Não faria nada além de olhar-te, enfeitiçado,
não pensaria em outra coisa que não amar-te,
não existiria senão para fazê-la sorrir.
(serias presença, não lembrança)

Pensando bem, nem mesmo seria eu...
Não olharia para as mulheres que caminham,
não arrastaria asa para um bom rabo de saia,
não gastaria tempo com futebol e cartas...
... talvez até trabalhasse.
(estarias! mas não como saudade)

Muito obrigado por não me quereres,
por desprezar meus intentos;
por negar-me seus sentimentos.
Desta forma continuo como sempre fui...
Vazio.

E posso fingir que estou feliz
fazendo sozinho o que prefiro em conjunto:
Ouvir os pássaros; comentar a beleza das flores...
E posso até arriscar versos,
para mentir que não te amo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Curta a vida

Curta a vida e todos os momentos,
Curta as lembranças felizes,
Curta os amigos,
Curta a familia,
Curta a vida,
Curta cada dia como se fosse o ultimo.

sábado, 5 de junho de 2010

Ipê amarelo

Quando partiu, para mim sobrou
o outono, o sabor de morte.
Solidão é terra morta, rio sujo,
não sobra vida nos olhos...
Não deixa vontade de vida.

Hoje floresceram os primeiros ipês,
cantaram alto os bem-te-vis
e cantei eu que bem vi
Uma formosa flor silvestre; semi-agreste.

À alma que se encontrava gelada
veio o pulsar ardente de uma paixão
e floriram, por toda parte,
na mesma hora, os ipês amarelos.

Tornei-me mulher-flôr de graça singela,
exuberante e independente Tabebuia chrysotricha.
Não mais espero. Vejo-me linda e livre
sou quem sabe onde está e o que faz.

Neste inverno que sucede não esqueço nosso amor,
Foi mistura de almas em caldeirão fervente...
Simplesmente entenda que hoje sou outra.

E carregarei para sempre, em preto e branco,
a linda foto de um grande amor que ficou para trás
enquanto segui com a vida para frente.