Quero um dia, ainda,
escrever o verso mais intenso.
E por ser humano
e por estar vivo,
só poderia tratar de sentimento.
Vivo, pois, cada momento
como fosse um inteiro ciclo.
Nasço, vou ao ápice e morro
em um dia e a cada um deles.
Assim sendo, de manhã quando acontece
de me acometer felicidade
é como gol do título
marcado no último minuto.
Se aparece, no fim da tarde,
uma saudade certa
não incomodo de enganar-me
e minto mais que samba de sambista.
A noite traz com a lua
tristeza de maior calibre.
E sinto-me único sofrente:
todo o frio do mundo
em um coração oco de sangue.
Madrugada, copo vazio de esvaziado,
sou como suicida
de um sem nome desespero.
Destes que pulam da ponte
e deixam pra trás mulher e três filhos.
Os primeiro raios de sol são meu parto.
Como que escondido no porão
em meio a ruínas de guerra.
Sem pai, sem pátria, sem mãe, sem nome.
Deslocado de tempo e espaço...
Talvez seja o motivo
de ser chamado esperança