vou beber o suco imundo
da poesia,
gestada pelo amargo da
enxurrada, na sarjeta.
Porquê enquanto houver
falta fabricada
vou lamber os restos
podres da mesquinha humanidade,
porquê toda dor me dói
e sinto o mundo inteiro em cada rua.
Vou gritar para além
do muro –
para doer em mais
estômagos; no âmago!
Vou lembrar dos brilhos
nos olhos
usurpados de toda
garota que vai para rua ser esquecida.
Vou dizer da fala
simples
arrancada da terra,
para abaixo dela.
Vou assinar o recado
que é dado
por todos os morros e
favelas.
Vou comer o mundo
inteiro à garfada –
o que vier eu traço.
Se passar mal, é
comigo;
sou eu e o tal; é o
mundo.
E pra a casa do caralho
esse sistema;
essa moralzinha,
capitalista de merda,
e todo seu dinheiro
acumulado.
E toda sua exploração
premeditada.
Tenho ânsias e
tonturas ao ver as paisagens sociais do mundo;
e um nojo imenso desse
“Estado Democrático”
de direito para quem
pode pagar,
feito para que poucos
possam pagar e imposto à paulada de polícia.
Não vou manter a calma
e contar até dez,
ou esperar 2030.
De qualquer vômito se
faz poesia!