terça-feira, 27 de abril de 2010

Lama.

Com passos fundos

findo.

Passo em passos fundos.

Passos passam fundos.

Finos passos afundam.

Afundo passos

findo.

A fundos passos

fim do mundo.

Arrudas

Silencioso, o rio ri.
Coberto pela massa de concreto
No mais profundo escuro.
Abaixo das ruas baixas da cidade –
Escarro, prostíbulos, ladrões... e papéis.

No escuro, o rio vê.
A massa de ignorados,
O amor dos ignorantes,
A mendicância no Boulevard:
“O bicho”, de Bandeira.

Irritado, o rio chora.
Pelo frio dos desabrigados,
Pela não-escola dos pivetes,
Com a embriaguês dos condenados
À vida de sofrimento.

Na escuridão, o rio sente.
As duras frias margens de cimento –
O enclausuramento (...)
(...) O domínio da pressa.

Sozinho, o rio nada teme –
Não há espaço para o medo
Diante a face da morte.

domingo, 25 de abril de 2010

Meu Afã

E venho, novamente, me contar
(com não me canso?)
Insisto nesse torpe afã
(esgoto-me)
Afim, de quem sabe, a luzes da manhã
Venham me libertar

Rogo um tempo onde a claridade me acompanha
Um tempo em que o véu se desfaça
E eu, farto de ser minha caça
Corrobore com os superficiais intentos

Sinto encorpar-se a questão:
Será que quero me falar?
Será que todas minhas palavras, pretéritas,
por fim, foram em vão?
Ou melhor: vãs!

Há quem diga (eu para mim mesmo)
Que essa luta constitutiva
Essa guerra interna
Não passa de ilusão intuitiva...
Que meu intento verito
A quem dou muitos méritos
Não é nada além de mais uma mascara
Que me encara carrancuda a dizer-me:
Não há verdades para você!

Uma direção

Uma direção, sem direção
Essa e a direção, daqueles que não tem direção
devem seguir a mesma direção, a direção sem direção
Mas qual e a direção ?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bicho

Tem gente que é gente,
tem gente que é bicho.
Eu sou bicho, bicho solto!
Nascido e criado na selva,
selva de pedra, sufocante!
Trocam-se as arvores,
por belos arranha-ceus.
Tenho concreto até no sangue!
Será essa causa da dureza do meu coração?
Diria que sim, diria que não.
Minhas presas, quase semelhantes,
se vestem de lobos, quando são homens.
Devoro todos os dias
essa gente que é gente.