quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Janela de frente


Levanto cedo e me sento
na varanda de frente
[para o crime?]
para o centro. –
Ainda quieto; acorda e se espreguiça.

Primeiros, pequenos passos
de sono interrompido –
despertador –

cortinas e janelas se abrem,
céu limpo, o vento é calmo
e agradável
café é preparado.

Ônibus urram. Definem e ditam os rumos da caminhada
e as primeiras motos já se destacam.
Seguidamente, loja após loja anuncia
o início da temporada diária de caça
com o som metálico-estridente de seu abrir de grades.
É tempo de pressa, meus caros,
é hora para os apressados; carros
já tumultuam trânsitos e buzinam.
Os primeiros estacionam e o trabalho começa;
não há mais para onde correr
à luz do dia tudo é voltado para a produção
de uma vida que não sabe aonde vai nem porquê.
É chibata no lombo de qualquer poeta ou beat;
é sufoco para o homem que aperta a gravata
e sorri a mulher que há de ser estuprada.
Tudo que visa à calma do mercado, prevê
sua servidão voluntária ao padrão de vida do patrão
que confia a você o trabalho de querer manter.
Eis a ordem,
Sorria!

É concreto que o concreto desperta;
E vejo tudo de muito perto, desperto.
Sinto. E os cheiros do pneu e asfalto me fizeram poeta.
Há todo um escárnio cá embaixo,
Abaixo do véu da fumaça, tem fogo e o pau-quebra.
Mas por enquanto é só o início,
Aproveite bem a aurora do começo do dia.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Qualé direção?



Excelentíssimos senhores digníssimos,
queridos diretores da FAFICH –
expliquem-me direito, não compreendo
devo ter entendido errado
ou deve estar errado o caminho acadêmico.

Impressionantes são os rumos de sua política;
indago o sentido de sua definição,
óh excelência!
Os fatos demonstram e seus e-mails explicam –
“Ah de separar os homens e isolar estudo de sociedade!”, conclamam.
Ouço: “Ultra especializemo-nos (nem ao menos conversamos);
e retiremos da universidade os inaptos que atrapalham.”

Vejo que cartilha seguem e não me animo – buscam o ranking –
definido por Xangai ou qualquer outra corporação,
pergunto, direção:
É legítimo e louvável que a instituição do lucro
Seja a que defina os parâmetros da educação?
Digo que não!
E para o inferno a ladainha
de erudição separatista, autoritária, preconceituosa e elitista.

Foram seus longos estudos (parte no exterior)
que lhe fizeram concluir, imperador Alexandre,
que a enorme sociedade atrapalha o pensar da bolha universitária?
Qual base teórica o fez tão sábio
a ponto de reduzir o processo pedagógico
ao nível de professores/provedores ultra capazes
e estudantes acéfalos, passivos de repetição somente?
Em quais teóricos baseia seus atos
de negar o espaço e a construção democrática
dentro das humanidades de uma universidade?

Pergunto por querer manter distância do que habita em vossa cabeça.

É o ser humano quem pensa, senhor;
e seu conjunto faz política.
Lembre-se que é vastamente social a sociedade; e muito vária.
Inclui muitas Márcias.

É a universidade um local de saber
e ele deve ser construído inclusivo, inclusive.
Não fechem as portas, senhores diretores,
desçam do pedestal e ouçam.
Há sábias vozes nas ruas, nos corredores
em outras comunidades e favelas.
Há quem queira um humano-livre e mais ciente de sua transdisciplinaridade.
Há quem queira fazer sociologia com arte
e pôr política em verso.

Não se reprima diretor, que coisa feia!
Não instale guardas e delete centros acadêmicos.
Entenda que há mais formas de debate,
que espaço de aula também pode ser bosque e festa.
Tente se animar no batuque do café filosófico, oh mestre,
ou o senhor almeja um saber tão pré-moldado
que já venha com código de barras impresso?
Será o senhor, o criador
do “Selo Monsanto de Qualidade Acadêmica”?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

É, poesia...

É um momento intenso de desejo
                        em ação de dissipar-se em brasa.
É uma tormenta,
          um tormento.

É a fúria e a graça;
o desabafo.

É a voz de um humano cansado
com a vista imunda da desgraça.

É um não entender a maldade
   um não compreender tal trabalho
        não pensar mais em ter,
                         mais em compartilhar;
                                      é amizade.
                                      é simples.

É inocência natural
   sem pensar que ser mal
      é obrigação de ser social.

É o bem querer, o bem gostar, o bem gozar.
      É tolerar, nem prender, nem matar.
                        Agora e já!

É não omitir nem transferir;
                          responsabilidade.
É ter a mente sã e acreditar no que há de sagrado
                                                          no homem.


Começa em ter a vista para ver
que é o que falta;
o que deve sobrar,
poesia!
Suffering so much from you ill minded disposition
Have come to my senses with a scream of self recognition

To have you awakening by my side in every night of dream
Without the power to cast away, never been seem

So now I still remain with the scraps of that sickness within
Scraps of an ludicrous illusion soon to be clean

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

um homem


"É mais um dia
do dia-a-dia
que se repete todo dia.
É muito chato e se repete a cada dia."

E nessas manhãs
só há pressa pra apertar gravata e sair pro trabalho.
Há um amor em situação delicada,
um amor que não se sente à vontade.
Que é uma espera que se perpetua,
uma vontade que seca e definha
à espera de um tempo
que só se apressa e nunca chega.
Promete que chega um dia
mas este dia ninguém chega a ver.

Sai para a rua o apressado homem que deve
cumprir todas as tarefas em tempo recorde.
Levar os filhos à escola, enquanto reclamam;
conversar com a mulher, em duvida sobre se amam.
Pagar contas de água, luz, televisão;
prestação de carro, apartamento, financiamento.
Enquanto faz tudo e mais um pouco; se lembra do afeto.

É um homem
que não liga para a mãe,
que não vê os amigos,
que não ri com o pai,
que não sabe dos filhos,
que não transa mais;
e sente saudade.
Mas passa por cima
pois há um chefe que cobra metas e alerta,
xinga se, por um segundo,
sonha.

E é o homem que se aperta.
Comprime sua raiva que não pode ser expressa;
sufoca a insônia e come angústia.
É o homem que agora foge de uma relação profunda,
que já nem pensa mais,
ou ama mais,
que não vê o mar e não mergulha.
Faz tudo que faz sem saber
e já nem sabe que devia se preocupar
e já não vê que precisa de alento.
Que já não está mais atento,
fora roubado em seu trabalho e seu tempo.
Para tudo que faz falta o ar, o estar pleno.
Ofega,
aperta o peito e adormecem as pontas dos dedos.


Não mais a partir deste dia que começou igual.
Em um segundo de espera para atravessar o sinal,
olhou ao redor. Percebeu e questionou o Homem.
Em sua cidade, viu as ruas compostas de pressa
e quis saber do mundo mais que da caixa preta.
Pensou que era piada uma organização financeira
que girando em ciclos, está presa
e emperra os homens da Terra
com sonhos de acumulação neurótica
e prisão verdadeira de mentes e corpos.

Não é lícito mentir que não sentiu medo;
era a tormenta que se apresentava
em giros no meio do caminho.
Lembrou-se da vida inteira como morresse
e sentiu raiva consciente do dia-a-dia que o matava.
Inflamaram-lhe as vísceras e os olhos
com o fogo juvenil da ânsia pelo desastre
e quis matar, o homem.

Um a um, todos os sentimento guardados
subiram à superfície da pele e emitiram luz.
Era um soluço e um brilho para cada mágoa ressentida;
uma tosse para cada sapo engolido;
um espirro para alegrias que passaram e não viu.
Azul, amarelo, verde, vermelho e roxo, era o homem e não sabia.

Um surto psicótico à luz do dia,
sucedido de AVC e enfarto enquanto gargalhava.
Nosso personagem sentiu romperem os vasos sanguíneos.
Sentiu o sangue jorrar dentro de seu corpo até sua morte.
Para ele foram flores e cores das quais gostava e (há muito) não via.
O relatório médico é frio por que não soube o que ele sentia.

Nosso personagem foi, um dia, um homem de sensibilidade,
sentiu, na hora da morte, o prazer da naturalidade.
Sentiu que tudo em seu corpo se transformava.
Seus órgãos viraram lagos e mares,
seu sangue, flores;
sentimentos, música.
Sentiu o que não podia ver ou viver para ver, e amava.

Sentiu sua existência jorrar em arco-íris,
banhar a existência cinzenta das cidades
e canalizar-se em um riso enorme
a despertar os homens e alegrar as crianças.
Como devem ser os homens e as crianças.
Toda a confusão de alguns instantes e o homem amou o mundo
e quis que se amassem neste mundo; 
transcendeu o Homem, o homem no mundo.


Em paz e em riso morreu um homem de terno
                                     à luz de um meio-dia.